Vou contar um caso verídico, bem engraçado que uma amiga me contou já há algum tempo e que sempre me volta à cabeça, e às vezes até fico rindo sozinha…
Esta minha amiga tem uma avó muito independente e ágil, apesar de ter passado dos 80. Essa vovó, muito elegante e refinada, resolveu um dia, que não queria mais transitar de motorista por aí, e sim, poder pegar um táxi ou ônibus na hora que bem entendesse e precisasse, sem depender de nada e de ninguém.
Bom, dito isto, toda perfumada e elegante, resolveu ir ao centro da cidade… De ônibus.
Entrou pela porta de trás, é claro, sem saber de isenção de tarifa para a maior idade (e também pelo fato de jamais se achar idosa), pagou a passagem e passou pela roleta, e como não havia nenhum lugar para assentar-se e nenhuma alma caridosa e educada para lhe ceder o lugar, ficou ali, espremida entre dezenas de pessoas.
Estava claramente se sentindo (no verdadeiro sentido da palavra) numa “lotação”.
De repente, resolve se apoiar melhor e segurar as barras superiores; e ao mesmo tempo, repara que o seu relógio caríssimo, herança familiar, tinha sido roubado naquele momento. Olha subitamente para trás e se depara com um indivíduo muito esquisito e mal encarado que certamente seria o autor do crime.
Mais que depressa, abre sua bolsa e retira uma escova daquelas antigas, com cabo arredondado de madeira, e como se estivesse armada, cutuca o camarada que estava colado às suas costas e diz baixinho:
_ “Coloque o relógio dentro da minha bolsa, AGORA”!
Ela sentiu que o moço ficou meio desajeitado e repetiu mais uma vez baixinho e com voz firme:
_ “Coloque o relógio dentro da minha bolsa”.
O homem colocou o relógio dentro da bolsa e rapidamente deu sinal, e desceu do ônibus.
A senhora assustada, mas satisfeita por ter conseguido recuperar o relógio, deu o sinal para descer no próximo ponto, abaixa o braço e tem uma grande surpresa: o seu relógio havia desabotoado e estava preso somente pela correntinha de segurança. O mesmo tinha escorregado para debaixo da manga longa de sua camisa enquanto estava com o braço estendido para cima.
Desce do ônibus assustada e liga correndo para casa. Quando do outro lado da linha alguém atende, ela diz apavorada:
_ “Acabei de roubar um relógio”!!!
Bom, isto é um exemplo de como a gente se engana…
E um bom exemplo de como a gente é enganado!!! Afinal, nem tudo que parece ser… é.
Raquel Fernandes
Fogão de três bocas 